O início
Acredita-se que o sal tenha começado a ser usado há cerca de 5 mil anos, tendo-se destacado em países como a Babilónia, o Egipto, a China e em civilizações pré-colombianas.
Já nas sociedades primitivas da Europa, a sua extração ocorreu na idade do bronze no entanto, o seu uso era restringido às populações costeiras. As reservas sujeitavam-se a períodos de escassez, determinados por condições climatéricas adversas e por períodos de elevação do nível do mar, dificultando o seu acesso.
O sal era considerado um produto escasso e precioso, sendo vendido a peso de ouro. Em diversas ocasiões, foi usado como moeda para compras e vendas. De entre os exemplos históricos mais antigos, o mais conhecido nomeia o costume romano de pagar em sal parte da remuneração dos soldados, o que deu origem à palavra salário.
Já no reinado de D. João I (séc. XIV), a quantidade de sal produzida era tanta que o governo facilitava a exportação para o estrangeiro, como medida de grande proveito económico. Entre os países que mais consumiram sal português, evidencia-se a Holanda, a Dinamarca, a Noruega, a França, a Suécia e o Reino Unido.
O sal português foi sempre considerado de melhor qualidade, tanto em Portugal como no estrangeiro, e assim, era um artigo privilegiado, dispensado de qualquer imposto e de portagens.
Sal de Aveiro
Foi durante a Idade Média que, segundo documentação, se começou a exploração do sal de Aveiro, sal de mar. Então e sempre utilizou-se o processo de evaporação.
O inicio da exploração dos salgados do Vouga coincidiu com a formação da própria laguna, por um lado e, por outro lado, com factores de ordem antrópica que se revelaram fundamentais para a salicultura na região. Vide Formação da Laguna.
Contudo, a este factor de ordem natural há que aduzir outros, de natureza antrópica, patenteados numa conjuntura sócio-política absolutamente estruturante para a salicultura na zona da futura laguna de Aveiro.
Referimos-nos, neste particular:
Com a tomada definitiva de Coimbra aos mouros, em 1064, o campo de batalha deslocou-se inexoravelmente para sul. A norte do rio Mondego, o território estava pacificado e tornara-se definitivamente cristão, apresentando a segurança e estabilidade propícias à consolidação de gentes e povoados e à exploração de todos os recursos que a natureza punha à disposição da população.
O comércio do sal “era muito intenso e as portas da muralha da vila do lado do mar ficavam abertas durante a noite, para que não fosse interrompido o serviço da carga e descarga dos navios”.
No início do século XVI o canal da Ria, ainda em formação, tinha profundidade suficiente para permitir o acesso a naus e caravelas e iniciavam-se as primeiras campanhas de pesca do bacalhau à Terra Nova. A vila florescia, entre os quais muitos estrangeiros, subsistindo economicamente pela indústria do sal.
No entanto, no final do século XVI o mau estado da barra, originado pela sua contínua deslocação para sul e pelo assoreamento das areias, devido ao inverno tempestuoso de 1575, reflectiu-se no comércio e no aparecimento de epidemias, o que provocou o despovoamento da “Vila de Aveiro” e das localidades envolventes.
A cidade encontrava-se num triste cenário, empobrecida, com grande taxa de óbitos e uma reduzida taxa de natalidade. No entanto, em 1759, apesar das péssimas condições, a vila foi elevada a cidade pelo Marquês de Pombal (com o nome de Nova Bragança).
O atrofiamento e assoreamento de alguns canais originaram a redução do grau de salinidade em troços da Ria que deixaram de estar aptos a fazer sal; a monocultura do sal de Aveiro perdeu o interesse a partir da década de 70 do séc. XVII, o que permitiu o desenvolvimento de outras atividades económicas, nomeadamente da pesca e da também tradicional colheita do moliço na Ria.
Há referências a proprietários que destruíam os muros da vedação das marinhas para estas serem utilizadas como “praias” de produção de moliço.
Após algumas tentativas falhadas em 1802, o Eng.º Oudinot foi incumbidos de analisar a situação da barra e de descobrir um modo que garantisse a navegabilidade da Ria, optando pela construção da barra artificial já sugerida pelos holandeses. Para a execução desta solução foram construídos dois molhes, com as pedras da muralha da cidade, demolidas de propósito para o efeito.
a localização de uma possível barra artificial foi alvo de polémica e agitação social porque envolvia interesses contraditórios das atividades desenvolvidas na laguna, nomeadamente a salicultura, a pesca e o cultivo das terras envolventes.
Em 1807 o cenário era caótico, a insalubridade da Ria afetou a salicultura, a agricultura, a pesca, o comércio e a saúde da população, até que em 1808 se efetuou a tão aguardada e desejada, abertura da barra.
O novo início
Após a abertura da barra conservaram-se as marinhas feitas entre 1759 e 1778 e recuperaram-se as marinhas entre o esteiro de Esgueira e o de Sá, para Sul de Aveiro, até Ílhavo.
Verificou-se um novo surto demográfico e económico, que potenciou o atual dinamismo urbano, ambiental, portuário, académico, cultural, comercial e de serviços, num contexto de rápida transformação urbana que alteraram a ocupação e configuração do território.
A abertura da Barra permitiu:
Com este novo impulso a cidade ganha nova forma e a produção de sal rejuvenesce.
Ver + salgado de Aveiro.
Entre as décadas de 60 e 70 existiam registos de cerca de 270 salinas ativas em Aveiro. Em 1994, já em número reduzido, apenas 49. Hoje em dia são apenas 9 as marinhas de sal que permanecem em atividade.
(Foto da Barra - 1934)
(Foto descarga de sal - linha de comboio no Canal de São Roque)
(Foto: Aveiro e os montes de sal a perder de vista)