O Marnoto

Há quem diga que é preguiçoso, pois vive do que a natureza lhe dá. Mas a sabedoria do Marnoto está em ser capaz de relacionar a água salgada, o vento, o sol e a chuva, as lamas argilosas, o moliço e as madeiras das alfaias criando aquilo que já foi o grande motor da economia mundial.

O Marnoto

O Marnoto é o homem responsável pela extração do sal artesanal com a utilização de alfaias de madeira. Inicialmente começavam como moços e, com experiência, tornavam-se marnotos capazes de explorar sozinhos uma marinha de sal.

De corpo robusto e bronzeado pelo sol intenso, o Marnoto dedica-se a todas as atividades que a safra exige desde a Primavera ao fim do Outono. Outrora, vestia em regra uma camisa de lã branca, um lenço avermelhado ao pescoço, calções largos de algodão e sem esquecer, à cabeça, um chapéu preto.

O seu trabalho é árduo, pois encher e remexer os tabuleiros com água nova, quebrar e puxar o sal e ainda carregá-lo em canastras pesadas sob a cabeça, são tarefas que exigem grande esforço físico.

Esta profissão, que existe desde 959, entrou em vias de extinção.

Se outrora, ser marnoto era uma arte que sustentava várias famílias e passava de pais para filhos, nos dias de hoje são poucos os jovens que lhes sucedem. Se este era um emprego que passava de geração em geração, hoje em dia são poucos os homens que se mantêm ligados a este trabalho sazonal, fazendo-o apenas como uma tarefa complementar.

Ao, hoje, fraco valor comercial do sal, junta-se a cada vez mais inconstância das chuvas e a grande sazonalidade da atividade.

A expansão do mercado e a concorrência do sal industrializado vieram dar menos importância ao trabalho do Marnoto, pelo que, apesar de poucos, em Aveiro continua-se a lutar para que esta profissão não morra.


CURIOSIDADES

  • Todos os anos, por volta de 25 de março, realiza-se a Feira dos Moços, altura em que os aprendizes (conhecidos como moços) de Marnoto  se oferecem aos Marnotos.
  • A outrora "salada dos marnotos" é hoje conhecida como o sal verde, sendo um produto gourmet, com elevado custo comercial.
  • Existem registos de, num bom ano, uma marinha de sal possa extrair mais de 100 toneladas de sal.
  • A "botadela" representa o momento de botar a marinha a sal, realizando-se uma grande festa com a família, amigos e outros marnotos. Passam todo o dia a comer, beber e a dançar os cantares tradicionais da Ria.

 

 

 

 

 

Foto; Família Gandarinho - a saber de geração em geração

Outros elementos

Salineira

Mulher responsável pelo transporte do sal em canastras de vime, desde as marinhas de sal até aos barcos e, depois, para os armazéns.

Tradicionalmente cozinhavam também as refeições para os trabalhadores das marinhas.


Alfaias

As alfaias das marinhas de sal de Aveiro são ferramentas em madeira utilizadas para recolha do sal artesanal.

Glossário de algumas alfaias*

Rasoila - Rodo com um cabo de 2,2 m. e uma pá de 85 cm. de comprimento, por 25 cm. de largura e 1,8 cm. de espessura, cujo bordo inferior é, por vezes, forrado a zinco ou cobre, para o tornar mais resistente ao desgaste; usa-se para rer.

Pá de amanhar - Pá com o comprimento de 1,1 m., utilizada para a vedação dos portais da andaina de cima e das bombinhas do mandamento.

Pesa-sais -Densímetro utilizado para verificar o grau de concentração salina da água, em graus Baumé (º Bé). Antes de se conhecer este instrumento, o grau de salinidade era calculado de maneira empírica, através da maior ou menor capacidade de flutuação de uma batata: quanto maior fosse, mais concentrada estava a água.

Ver o trabalho do Diamantino Dias em "Glossário das Salinas"


Palheiro

Casa rudimentar, primitivamente, em madeira e coberta a bajunça, o mais das vezes, de chão térreo juncado com ervas ceifadas na salina, onde se guardam as alfaias; serve, também, de abrigo para o pessoal, quando faz mau tempo.

Por vezes, ostenta, por cima da porta, o nome da marinha.


Foto; Filipe Gandarinho