A Marinha

A Marinha de sal

Instalação a céu aberto, destinada a obter, por evaporação, o sal dissolvido na água. Numa salina, há as seguintes peças principais: tanques de armazenamento de água (viveiro e algibés); ordem evaporadora (caldeiros, sobrecabeceiras, talhos, depósitos) e ordem cristalizadora (meios de cima e meios de baixo).

É construída essencialmente com lamas, em plano inclinado, situando-se o viveiro na parte superior e as andainas na inferior, para que a água passe de um compartimento para o seguinte só por acção da gravidade.

Deve situar-se num local bem exposto aos ventos dominantes, tendo em vista facilitar a evaporação, e o mais próximo possível do canal de comunicação entre a Ria e o mar, para tomar água com boa concentração salina.

(Foto - Esquema de uma Marinha de sal)

Componentes

Defensão: Muro exterior da marinha, construído em torrão cimentado com lama, que delimita a propriedade e impede a entrada da água da Ria. Quando a marinha se situa num local desabrigado ou onde se verifiquem correntes de forte intensidade, ou, ainda, haja muito navegação a motor, a parte externa deste muro deve ser consolidada com o assentamento de uma protecção em pedra e caco.

Palheiro: Casa rudimentar, primitivamente, em madeira e coberta a bajunça, o mais das vezes, de chão térreo juncado com ervas ceifadas na salina, onde se guardam as alfaias; serve, também, de abrigo para o pessoal, quando faz mau tempo. Por vezes, ostenta, por cima da porta, o nome da marinha.

Viveiro: Compartimento com uma profundidade média de 50 cm, situado na parte mais elevada da marinha de sal, constituindo um depósito de água salgada, cuja capacidade deve ser a suficiente para alimentar a salina, durante os quinze dias que medeiam entre as tomas de água. Usual e tradicionalmente, procede-se à criação extensiva de peixe (enguias, tainhas, robalos, douradas e linguados) e bivalves (berbigão), que entram, durante as tomas de água, neste reservatório. Esta utilização do viveiro, que, durante séculos, foi entendida como uma fonte de rendimento secundaríssima, se bem que, por vezes, produzisse lucros apreciáveis, tem vindo a ser encarada, nos últimos anos, como a actividade económica que pode vir a substituir a cultura do sal na Ria de Aveiro, havendo várias salinas que foram totalmente reconvertidas em estabelecimentos de piscicultura.

Algibés: Reservatórios de forma rectangular, com uma altura de água aproximada de 10 cm, situados entre o viveiro e os caldeiros, e separados de um e de outros, respectivamente, pela trave do viveiro e pela trave do mandamento; numa marinha dotada de boas comedorias, devem existir dois ou três algibés para cada quinhão.

Caldeiros: Reservatórios de forma rectangular, com uma altura de água aproximada de 8 cm, situados entre os algibés e as sobre-cabeceiras, e que são as primeiras peças do mandamento; a largura de cada caldeiro é igual à de três meios.

Talhos: Reservatórios de forma rectangular, com uma altura de água aproximada de 6 cm, situados entre as sobre-cabeceiras e as cabeceiras e que são as terceiras peças do mandamento; a sua largura é igual à dos caldeiros e das sobre-cabeceiras, tendo, no entanto, um comprimento ligeiramente menor. Num ano bom e numa marinha valente, alguns destes compartimentos podem trabalhar como cristalizadores, a partir do meio da safra. 

Sobre-cabeceiras: Reservatórios de forma rectangular, com uma altura de água aproximada de 7 cm, situados entre os caldeiros e os talhos e que constituem as segundas peças do mandamento. Algumas marinhas por insuficiência de área, não têm sobre-cabeceiras. Esta pobreza de mandamento pode ser compensada das seguintes formas: aumentando, ligeiramente, as dimensões das restantes peças do mandamento; ou construindo, apenas, uma marinha singela.

Cabeceiras: Reservatórios de forma rectangular, com uma altura de água aproximada de 5.5 cm, situados entre os talhos e os meios de cima da marinha nova e que constituem as quartas e últimas peças do mandamento; as suas dimensões são sensivelmente iguais às dos talhos. Num ano bom, estes compartimentos podem trabalhar como cristalizadores; assim, a maioria das marinhas tem as cabeceiras divididas em duas zonas: a superior, cuja largura corresponde à de três meios, não tem subdivisões e desempenha as funções de meios de cima, e a inferior, subdividida em três partes, que funcionam como meios de baixo, ou seja, como cristalizadores.

Marinha nova: Andaina contígua ao mandamento (cabeceiras). O mesmo que “marinha de cima”. Constituído pelos de meios de cima e os meios de baixo da "nova".

Marinha velha: Andaina que se segue à marinha de cima. O mesmo que “marinha de baixo”. Constituído pelos de meios de cima e os meios de baixo da "velha".

Cristalizadores: Meios de baixo da "nova" e da "velha".