A Safra

A Safra do sal

Durante o Inverno, a salina sofre a acção das chuvas e dos ventos, estes arrastam terra e outros materiais que se depositam ou se encontram em suspensão nas suas águas. Os muros são alvo da erosão causada pelas marés e racham. Ainda devido à acção da água, as comportas de madeira tendem a apodrecer.

Como nesta altura as águas da salina têm uma salinidade baixa crescem ervas e moliço nos diferentes compartimentos, nos muros e canais. Também as eiras se sujam e desnivelam. No início da Primavera (entre Fevereiro e Abril), assim que as chuvas partem, inicia-se a safra e esta só termina quando as chuvas regressam.

Todo o processo da safra pode ser dividido em três fases:


Trabalhos preparatórios

Os trabalhos preparatórios visam preparar a salina para a produção de sal. São o conjunto de trabalhos de limpeza e reconstrução da marinha assim como a cura dos solos.
A limpeza e reconstrução da marinha engloba por sua vez, vários trabalhos, como os de:

  • reparar cambeias na defensão, com aplicação de capêlo;
  • escoar as águas depositadas nas comedorias, mandamento e cristalizadores;
  • envieirar o moliço e transportar o mesmo até ao malhadal, local onde seca;
  • travejar o viveiro e os algibés;
  • embarachar o mandamento;
  • dar sol à comedoria e ao mandamento;
  • tirar o entraval;
  • anafar os liames;
  • regar o mandamento;
  • estranger a marinha.

O período da cura dos solos, que se desenrola em geral nos meses de Maio e Junho, implica a execução das seguintes tarefas:

  • meter água nas cabeceiras;
  • encanar a praia podre dos meios;
  • dar sol da estrangedura;
  • governar o mandamento (dar molhaduras);
  • circiar*;
  • meter nova água e encamisar;
  • desmamar a marinha dos meios de baixo para os meios de cima;
  • sustentar a marinha.

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*Foto de circiar


Produção do sal

A produção de sal consiste num conjunto de trabalhos de cristalização, por evaporações sucessivas, até à colheita do sal. Decorre desde finais de Junho até Setembro/Outubro desde que as condições atmosféricas o permitam. Engloba a realização das seguintes tarefas:

  • botar a marinha a sal (botadela);
  • dividir a marinha em três mãos;
  • escoar as encanas;
  • abastecer diariamente de água salina a marinha partindo dos algibés e indo sucessivamente até às cabeceiras;
  • quebrar, envieirar e rêr uma das mãos;
  • bulir as outras duas mãos para não se formarem tremonhas;
  • tirar o sal de três em três dias nas diferentes mãos, consoante o estado do tempo;
  • colocar o sal rido a secar no tabuleiro durante umas horas;
  • encher as canastras de sal;
  • transportar o sal para as eiras;
  • fazer montes e/ou mula nas eiras;

Remoção e conservação do sal

A fase de remoção e conservação do sal é o termo da safra.

Dela fazem parte os seguintes trabalhos:

  • achegar os montes de sal;
  • cobrir os montes com tela plástica e redes - tradicionalmente, com bajunça ou junça chapeada por lama, sob a forma de pés de galinha.

O preço, tal como tradicionalmente é feito pelo armazenista local, que com uma vara mede a roda do monte e após prévia apreciação e da quantidade do sal, faz o preço.

O contrato de compra e venda é celebrado oralmente, entre o Marnoto e o armazenista. O transporte fica a cargo do armazenista, que o distribui.